sábado, setembro 19, 2009

É por estas e por outras que não há como não gostar de pessoas

Jogar volleyball ao sábado à tarde com um grupo de pessoas que jogam volleyball aos sábados à tarde. Até aqui tudo normal. O grupo de pessoas é sueco ou fala sueco - até aqui tudo normal, também. Vou com uma das minhas colegas portuguesas pela primeira vez. Formam-se várias equipas e não ficamos na mesma equipa. Quando passam duas horas de jogos e são duas da tarde, algumas pessoas vão embora e algumas ficam e jogam mais um bocadinho. Formam-se novas equipas e eu fico na equipa da minha colega.

E é aqui que as coisas se tornam giras: "distribui jogo", diz-me ela, tipo gíria voleibolística (fiquei a saber que isso significa passar a bola às pessoas mas dizer isso desta forma deve ser um bocado rudimentar, não sei), "a bola é deles", diz-me ela antes de eu atirar a bola para a outra equipa, como se eu não soubesse. Pega em mim, assim pelos ombros, e põe-me noutro lugar do campo quando é tempo de fazer a rotação e passar para uma nova posição no campo, como se eu não soubesse também. Se faço um passe mal feito, dá um conselho e diz que eu devia fazer mais assim e assado.

Esta série de acções dura uns três minutos, é verdade. É tudo muito rápido. Até que eu decido ser honesta: "eu sei, pára de tentar exercer poder sobre mim", digo-lhe eu. Não sei se ela merecia a minha honestidade, provavelmente não, mas a minha frase funciona (há que ser pragmático de vez em quando).
A minha frase é também uma forma de exercer poder: acabei por lhe dar uma ordem a ela e talvez se tenham invertido os papéis. Talvez seja a única forma de equilibrar o poder entre as pessoas.

Qual funcionário no seu guichet, qual bicharoco esfomeado: aproveitar a circunstância certa para exercer um bocadinho de poder, para comer um bocadinho do outro.

É por estas e por outras que é impossível não gostar de pessoas - de um ponto de vista sociológico, claro. Agora que penso nisso é uma frase boa para se dizer a alguém: gosto de ti do ponto de vista sociológico.

4 comentários:

Anónimo disse...

lindo

Francisco disse...

Eu quando jogava futebol era isso constantemente mas eu só encolhia os ombros.

E já agora "pára de tentar exercer poder sobre mim" deve ser das piores formas de retorquir de sempre. É que vê-se mesmo que és das psicologias.

Anónimo disse...

lol, "pára de tentar exercer poder sobre mim" é uma maneira refinada, formal, polaite, explicativa de dizer "não me chateies" ou "vai pó caralho". gostava de saber qual a reacção da que exercia o poder e depois deixou de exercer.

Sara disse...

Oh, só dizes isso porque sabes que eu estudo psicologia. Quem estuda psicologia fica eternamente conotado como pessoa da psicologia, seja lá o que isso for.