O que intereressa a Hartley é mostrar como dois inadaptados podem encontrar consolo numa alma quase gémea. (...) Maltratados pelo mundo, eles reconhecem-se e aceitam-se tal como são, numa espécie de tristeza partilhada, a sua solidão mitigada pela companhia magoada do outro. Hartley filma as suas personagens num subúrbio agreste e indistinto, que funciona como uma espécie de deserto moral: ninguém tem grandes convicçoes nem grandes esperanças, apenas traumas e uma infelicidade que se confunde com misantropia.
O que é que Matthew encontra em Maria? E Maria em Matthew? Acima de tudo, confiança. O nome do filme ilustra essa ideia: amamos aqueles em quem confiamos totalmente. Maria testa Matthew (assumindo um risco) quando se atira de cima de um muro, esperando que ele a agarre (o que acontece). Matthew, emocionalmente mais fugidio, reconhece que tem «confiança» nela. E não apenas confiança: também «respeito» e «admiração». Então Maria pergunta se «confiança, respeito e admiração» não é o mesmo que amor. Na verdade, não é uma pergunta: ela exige que Matthew confirme isso. E ele admite: «it equals love».
[Parte de uma crónica do Pedro Mexia, no livro Nada de Melancolia, claro]
Confiança, respeito e admiração. Muito elucidativo. Vou já procurar o filme. Chama-se Trust, é de 1990 e o realizador chama-se Hal Hartley.
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4 comentários:
é mesmo o teu estilo, ó sócia. parece que tou-te a ver com um sueco a dizer essas coisas mas em vez de tristeza têm uma alegria sofisticada à alberto caeiro.
Podes dizer que recebeste um livro de prenda de aniversário e que, no final do dia, já estava lido.
É verdade, embora isso assim pareça que li o livro todo num dia. Teria de explicar que recebi o livro no dia 28.
Mas foi por isso que fiz o comentário, a ideia é parecer que o livro é tão bom que a pessoa nem dorme para o ler de enfiada.
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