segunda-feira, novembro 23, 2009

Been there, done that: Parte I

Está feito. Já posso criticar, com base empírica, as viagens-relâmpago.

Sexta-feira. São quatro e tal da tarde. Entramos no barco à pressa porque alguém do nosso grupo se atrasou. Um espanhol, diz-se. O barco tem aspecto de anos 70: é uma espécie de hotel com corrimãos dourados e alcatifas em tons bordeaux e azul-escuro com padrões vários. No elevador ouve-se muito baixinho a Jesus to a Child do George Michael.

No caminho para a cabine (quarto?) começo a perceber melhor que o barco é interessante e que aquilo vai ser divertido. Sinto-me num filme de espionagem dos anos 70 sobre a Guerra Fria. Sim, a música do George Michael é anacrónica neste contexto mas nem me lembro disso. Senhores com ar de russos passam por mim e imagino-os a espetarem uma faca disfarçada de telemóvel nas minhas costas e a inserirem um microfone quase invisível no casaco de alguém. O meu companheiro de espionagem, o Paul Newman, espera-me ao pé do elevador no piso 2 de fatinho vestido - imagino eu.

No piso 2 não encontro o Paul Newman à minha espera, claro. Compinchas de grupo e eu dirigimo-nos à cabine onde vamos dormir: tem quatro camas e é minúscula. Imagino que vai ser uma noite horrível.

Vai anoitecendo e vamos espreitando o barco: tem restaurantes, sauna, lojas com chocolates, álcool e perfumes, uns bares e um mini-casino. Alguns compinchas de grupo compram álcool.

Mais tarde, fazendo tempo numa das cabines até que fosse hora de jantar ou assim, com mais quatro compinchas de grupo, sou ostracizada por não conhecer a "I Got a Feeling dos Black Eyed Peas". É um escândalo. Sinto-me leprosa. "Não conheces a I got a Feeling dos Black Eyed Peas? A tua vida é o quê? Faculdade-casa-faculdade? Não vai a discotecas? Nem a lojas? Não sais de casa?", diz o albanês. Sinto que vou ser expulsa da cabine, atirada para o mar.

Ao mesmo tempo que sou ostracizada, os meus compinchas põem música directamente de um telemóvel enquanto falam ao mesmo tempo. Começa a doer-me muito a cabeça e não percebo como é que conseguem fazer isto: falar alto e ao mesmo tempo ouvir música directamente de um telemóvel com aquele som arranhado, horrível e insuportável que quase nem é música - como fazem os chungas que ouvem música no metro e nós temos de gramar com aquilo sem poder dizer nada. Vão pondo músicas e vão-me perguntando se eu gosto das músicas. Para me agradar põem os Killers, uma música mesmo má que quase parece música pimba daquelas mesmo más. Tipo aquela dos humans e dos dancers. Eu vou dizendo que não gosto. Supõem que eu gosto dos Killers porque Killers é música alternativa sendo que para eles eu sou considerada uma pessoa que gosta de música alternativa. Sendo que isso significa gostar dos Radiohead, dos Muse e dos Killers. Como eles não são chungas que vão no metro, na linha vermelha, peço delicadamente para tirarem a música e eles tiram.

[continua amanhã que tenho coisas para ler]

1 comentário:

Francisco disse...

Estou a ver que te divertiste imenso.