Ontem à noite, como vai sendo hábito, fiz a ronda do costume pelos canais todos da televisão. Na Sic havia um directo, e nestas coisas dos directos a pessoa sempre pára durante um bocado maior de tempo nesse canal que tem o directo do que nos outros que não têm (excluir-se-ão como é óbvio os programas de entretenimento em que pessoas cantam bem ou dançam bem ou em que pessoas conhecidas cantam decor músicas conhecidas para ganharem pontos).
Na Sic havia então uma festa de Verão, a festa "Carachique", nome que ainda demorei um bocado a perceber tratar-te da festa Caras Sic e não da festa Caras Chique, embora qualquer um dos dois nomes acentasse bem ao que eu tinha visto até ali. Havia uma passadeira vermelha lá fora, entrevistadores lá fora (antes de entrar na festa propriamente dita) e entrevistadoras dentro da festa propriamente dita. O directo baseava-se em os entrevistadores lá fora abordarem pessoas conhecidas que se dirigiam para a festa propriamente dita, que acontecia dentro de um espaço fechado com música alta propriamente dito. As entrevistadoras lá dentro, por sua vez, entrevistavam pessoas conhecidas e não-conhecidas que fruiam já da festa propriamente dita.
As entrevistadoras que estavam na festa propriamente dita pareciam ter sido recolhidas do balcão de uma loja de roupa do metro da Alameda à última hora por haver falta de mulheres bonitas na Sic, mulheres que teriam habilidade para não ser tão confrangedor vê-las falar, mesmo que só dissessem merda. Mas como não tinham disso, que agora é Agosto e a malta está de férias, passaram ali pela loja de roupa do metro e trouxeram um par de lojistas que veio de boa vontade (podia ser que engatassem o segurança da discoteca ou o DJ, pensou uma delas).
A festa era numa discoteca qualquer do Algarve e as frases e perguntas dos entrevistadores eram coisas do género: "ah, que festa animada", "animação total nesta festa Caras Sic!", "então, preparado para esta grande festa?", "já está a dançar, não é? dançar é imperativo numa festa como estas, não é?". Os entrevistados eram pessoas mesmo muito bronzeadas e os vestidos das gajas eram muito foleiros, regra geral, também com ar de loja do metro. Um entrevistado respondeu qualquer coisa como "escolhemos sempre as festas a dedo, só vimos quando sabemos que vai ser uma grande festa e que vai estar montes de gente que nós conhecemos".
Esta resposta fez-me pensar outra vez na pergunta que surge quando vejo uma festa destas e que surgiu da única vez (recente) em que tive a feliz ideia de ir a uma festa deste género (em menor dimensão) porque alguém que eu conhecia lá ia cantar músicas dos 80s. Como é que estas pessoas se divertem, de copo da mão, em pé, durante horas a fio a falar com uma data de gente que conhecem mais-ou-menos e a ouvir música merdosa muita alta? Não é cansativo? Será que ficam deprimidos quando chegam a casa e têm que recuperar durante uma semana? Não suponho que se sintam como eu, deprimidos e deslocados ao fim de meia-hora mas, porra, gostam mesmo daquilo? Não se sentem nem um bocadinho mal por ali estarem?
Voltando à festa, o directo foi uma repetição de perguntas e respostas tolas. Não sei quanto tempo durou porque o problema disto tudo é que aquilo vicia o espectador e é difícil mudar de canal. Talvez porque o espectador mantém a esperança de que vá acontecer alguma coisa diferente a seguir. É como os programas das quatro da manhã em que as raparigas querem muito dar dinheiro às pessoas e fazem questão em frisá-lo muitas vezes: até com esses programas é difícil mudar de canal e queremos mesmo saber, como se fosse uma questão de vida ou de morte, quais são as palavras começadas pela letra Z para objectos que costumam estar numa cozinha.
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